Manifesto – Marcha das Vadias
em Maringá (PR)
A marcha das Vadias nasceu em resposta ao
depoimento de um policial na Universidade de Toronto, sobre segurança no campo
universitário. Em sua fala infeliz, o policial defendia que para se defender de
estupros as mulheres não deveriam se vestir como "vadias" (sluts). Como se a culpa da violência fosse da vítima, causando grandes
mobilizações pelo mundo contra esse os estereótipos das vítimas de preconceito.
A Marcha das Vadias chegou ao Brasil e foi realizada em diversos estados e
cidades, como em Curitiba (2011) e recentemente em Londrina.
A
palavra vadia não soa de forma bonita, pois não é intenção da Marcha
utilizar-se de eufemismos baratos, mas sim polemizar! Manter o nome é apoiar a
causa. Assim como a violência que ocorre devido o machismo não é um assunto
agradável aos ouvidos e aos nossos corpos.
Por que marchamos no Brasil?
Marchamos
porque o nosso país ocupa, vergonhosamente, o 7 º lugar em homicídio de
mulheres; porque a cada 15 segundos uma mulher é agredida em algum canto do
país; porque três a cada dez mulheres já foram agredidas; porque nos últimos 30
anos, mais de 91 mil mulheres foram assassinadas!
E por que marchamos em Maringá?
Nossa
cidade é conhecida como “cidade modelo”, cidade sem pobreza (favela), sem violência.
Quando a mídia nos reforça a pergunta “mas por que em Maringá”, questionamos:
por que NÃO em Maringá? Será que aqui não tem violência de gênero, doméstica,
sexual, moral, etc? Aqui não há machismo?
Maringá
não está em uma bolha e isenta de todos os problemas que assolam o mundo. A
luta de classes, a exploração e a opressão estão presentes em qualquer ponto do
globo. Mas em nossa cidade, que tenta transparecer uma perfeição hipócrita, o
que acontece é a ocultação de casos na qual nós, mulheres, somos vítimas cotidianas.
Como
podemos esquecer-nos da menina Márcia, estuprada e morta por um criminoso com
nome de Natanael Búfalo? Como podemos fechar os olhos aos constantes casos de
estupro e agressões que aparecem na televisão e são tratados de forma tão
leviana?
Sabemos
que neste momento há um homem em Maringá a qual já fez sete vítimas mulheres,
todas prostitutas. Por que isso não é divulgado? De certo, o ideal é esconder
os cadáveres do que assumir que Maringá, a cidade com o maior símbolo religioso
da América Latina (Catedral) tenha tantas prostitutas para já terem sido mortas
SETE e nada tenha sido feito ou dito até agora.
Por isso nós, mulheres de Maringá e
região, marchamos!
Para
que sejamos todas e todos respeitadas (os) sempre. Pela penalização e
extermínio de todos os tipos de violência seja ela física, institucional,
moral, psicológica, sexual, doméstica, por negligência e de gênero. Porque toda
e qualquer violência é por si só ilegítima.
Marchamos
por políticas públicas e leis efetivas, pela igualdade material no plano da
realidade cotidiana. Nós, maringaenses, possuímos uma delegacia especializada,
uma Vara especializada, e até mesmo uma secretaria para Políticas Públicas
voltadas à Mulher. Mas onde estão os dados das violências sofridas?
Marcharmos
pela Transparência dos atos públicos e de interesse da comunidade; contra toda
a corrupção que inviabiliza o acesso a direitos fundamentais, como educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, o acesso a informação, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma do art. 6 da
nossa Constituição. Porque somos iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza!
Marchamos
para que as denúncias de violência possam ser feitas com respaldo psicológico às
vítimas e preparo dos agentes que as atendem, para que não haja humilhação e
sofrimento às mulheres ao denunciar.
Marchamos
para que seja feito registros nos órgãos de saúde das lesões corporais sofridas
e suas causas, pelo acompanhamento da vítima.
Marchamos
pelo direito ao aborto legal e seguro, pois em período de 4 meses (2010), 72
mulheres maringaenses foram internadas no SUS por complicações de aborto; em
todo o Paraná, esse número sobe para 9.241! Aborto legal e seguro é uma questão
de saúde pública.
Para
a conscientização da necessidade de se proteger das DSTs, a viabilização desta
proteção e tratamentos disponíveis no SUS, sem tem que ser violada (o),
humilhada (o) para ter acesso ao tratamento.
Marchamos
contra o racismo, que inferioriza o ser humano pela cor de sua pele! Na nossa cidade,
que possui quase 71% de sua população na cor branca, as mulheres negras e
mulatas, além da opressão de gênero, sofrem a opressão étnica, possuem menores
salários, as piores condições de trabalho, precárias condições de acesso a
saúde.
Marchamos
por um sistema de cotas também raciais na Universidade Estadual de Maringá, já
que as cotas sociais não incluem a população negra e pobre no Ensino Superior.
Para
que as Universitárias Mães tenham direito a vagas na creche dentro do campus da
Universidade Estadual de Maringá, e demais instituições de ensino superior,
onde possam deixar seus filhos e filhas em segurança enquanto dão continuidade
aos seus estudos.
Pelo
fim da negligência com as indígenas, mulheres que há mais de quinhentos anos
sofrem agressões e estupros como arma do genocídio social e cultural de nossos
povos.
Marcharmos
em nome das mulheres idosas, que tem seu estatuto baseado no das crianças e adolescentes,
idosos não são crianças e não são incapazes. Merecem atenção especial do Estado
para garantir que estas não sejam exploradas, maltratadas, como todos os
direitos que garantam qualidade de vida. Para que viúvas possam voltar a ter
relacionamentos afetivos o quanto desejarem sem serem julgadas por isso.
Marchamos
contra o tráfico e exploração sexual de mulheres e homens, meninos e meninas.
Pelas crianças, contra a pedofilia, pela priorização de uma educação descente,
com acesso a cultura.
Marchamos
pela igualdade de salários entre mulheres e homens, por credibilidade em cargos
de chefia às mulheres.
Para
que o trabalho Do Lar seja reconhecido e valorizado como os demais trabalhos
braçais, pelo respeito e direitos trabalhistas a estas mulheres.
E
que o trabalho doméstico dentro de casa não seja somente uma obrigação
feminina! Que haja justa divisão das tarefas domiciliares nas famílias onde
ambos trabalham, e não a dupla jornada (super exploração) da mulher!
Marchamos
para que a responsabilidade da criação das crianças seja tanto da mãe quanto do
pai, com participações equivalentes.
Marchamos
em defesa das mães solteiras, das mulheres que criaram seus filhos e filhas
sozinhas, das mulheres divorciadas que sofrem de preconceito de diversos tipos.
Por
relações livres! Sejam monogâmicas ou poligâmicas, fora da lógica da
propriedade privada do outro, pelo respeito às relações das mais diversas
crenças e religiões.
Pelo
respeito e seriedade no tratamento à violência contra as prostitutas, maiores vítimas
da exploração capitalista do corpo e da opressão machista; pela não ocultação
dos casos de violência e homicídios de prostitutas (mulheres, travestis,
transexuais).
Marchamos
contra estereótipos em geral e contra os estereótipos do sexo; onde você deve
se enquadrar em homem ou mulher, excluindo e marginalizando travestis,
transexuais, transgêneros, gays, lésbicas e bissexuais; ou excluindo do direito
de constituir família, e de expor carícias em público.
Marchamos
contra a heteronormatividade!
Pela
liberdade das mulheres em expressar e exercer sua sexualidade sem serem julgadas
como provocantes, “fáceis”, vulgares. Porque as que fazem sexo sem a proteção
do sagrado laço do matrimônio estão contra a lei de Deus; porque loiras são
motivo de piadas, taxadas como burras; roupas ousadas não são sinônimas de
convite ao sexo! Simpatia e gentileza não são sinônimas de “estou de dando mole”;
ter a mente aberta não significa ser libertina.
Marchamos
por utilizarem nossa imagem na mídia como mero objeto sexual! Nossos corpos não
são mercadoria!
Porque
homens são cobrados a todo instante a provar sua masculinidade, não podem
chorar, nem demonstrar carinho por pessoas do mesmo sexo, obrigados a gostar de
esportes, possuir uma boa carreira, jamais serem sustentados pela esposa, são
obrigados a se alistarem ao serviço militar, pouca visibilidade a sua saúde
como se não ficassem doentes, pois são taxados como os seres “fortes”. Pela
igualdade de gênero!
Marcharmos,
enfim, contra o machismo, reproduzido em atitudes preconceituosas a todo
instante, enraizadas no útero da sociedade, assim como a mulher não gosta do
papel de submissa, certamente o homem não deveria gostar do papel de
opressor.
Marcharmos
para que o feminismo não seja confundido com sexismo, não há gênero superior,
não é vingança, não há “machismo ao contrário”. É a tomada de consciência da
posição de subordinação de gênero, uma luta por direitos básicos e respeito a
todas e todos.
Marchamos,
pois a marcha das vadias é um instrumento a serviço da transformação do mundo e
da emancipação do gênero humano. Lutamos para que todo tipo de discriminação
seja extinta junto aos antigos conceitos decretados à mulher.
Afinal
“o pessoal é político” (Carol Hanisch), e tanto os conceitos e as práticas
morais como as sociais continuam cúmplices do machismo. O movimento não é só da
mulher; em toda a sociedade nada ocorre isoladamente, a história acontece em
conjunto, movimentos sociais estão interligados. E a emancipação da mulher, só
ocorrerá com a superação do sistema capitalista, com a libertação do gênero
humano, quando todos estiverem livres dos padrões e dos patrões, e ter como
escolher para si o que lhe for melhor.
Se
ser LIVRE é ser vadia, somos TODAS vadias.
Excelente manifesto!
ResponderExcluirEstamos a mais de 100 anos lutando pelo direito ao trabalho, ao lazer e divisão de tarefas fora e dentro de casa, mas infelizmente ainda exite na sociedade a idéia tacanha da discriminação contra as mulheres.
ResponderExcluirEm uma conversa se fizer a pergunta: -
O que é um homem público? resposta: UM GRANDE POLITICO.
O que é uma mulher pública? resposta: VADIA, e outras barbaridades.
contem comigo estarei lá. Também quero vadiar.