II MARCHA DAS VADIAS DE MARINGÁ: PELO DIREITO AO PRÓPRIO CORPO !
Neste ano temos
muitas questões efervescentes sobre os direitos das mulheres, tanto no aumento
das reivindicações quanto no processo de retrocesso que as pautas feministas
vêm sofrendo paralelamente à grande invasão da política pelos fundamentalismos
religiosos misóginos, homofóbicos e à reação de outros setores conservadores
altamente machistas da sociedade brasileira . É no sentido de conscientizar, denunciar
e combater a mentalidade machista presente tanto nos órgãos governamentais como
na sociedade civil e no cotidiano da população que este ano Maringá marchará
novamente contra o machismo!
A Marcha das Vadias
vai acontecer pela segunda vez em Maringá não só para denunciar as várias
violências contra as mulheres, mas sobretudo para desnaturalizar e questionar as
diversas formas de manifestação dessas violências: as diferenças que nos
colocam como subjugadas a homens ou instituições de histórico masculinista
dependente ou independentemente das classes sociais a que pertencemos; As
violências moral e psicológica que fragilizam, limitam, amedrontam e adestram
as mulheres; A violência simbólica dos padrões de beleza que ignoram as
particularidades das mulheres e querem uniformizá-las de acordo com o mercado
econômico da moda, das intervenções cirúrgicas e que as nega o direito de
envelhecer; Da mídia que está sempre produzindo e reproduzindo esses padrões de
beleza, vendendo pela imagem e pelas piadas os corpos das mulheres como se eles
sempre estivessem a serviço do sexo e principalmente a serviço dos homens e
somente as mulheres consideradas “bonitas” devessem ser respeitadas; A violência contra os direitos trabalhistas dos serviços domésticos, a cultura de
não cooperação masculina nos cuidados com filhxs; Violência da configuração patriarcal de
família; A violência da humilhação
infinita dxs profissionais do sexo como se merecessem ser vítimas de violências
apenas por oferecerem serviços a um mercado masculino que acredita que deva
dispensar a elxs toda a sua cultura de violência e má-educação sexual; A violência obstétrica, dentre outras.
Essa é uma marcha
por respeito às mulheres e pela liberdade das mulheres. Em especial pela
liberdade de fazermos uso do nosso corpo segundo nossas próprias decisões, uma
liberdade que está retida não só nas mãos do machismo do senso comum, como
também nas mãos do machismo das autoridades políticas, dxs profissionais
despreparadxs das delegacias da mulher, das secretarias da mulher, das
prefeituras, dos hospitais, dxs magistradxs, dxs professorxs e de todas as
instituições em que o debate sobre a efetiva igualdade de gênero ainda não
chegou, com o argumento tapado de que já temos o nosso espaço social e que o
que reivindicamos é frívolo ou uma outra forma de desigualdade em que queremos
sobressair às figuras masculinas. Viemos relembrar: Meu corpo é meu!
Gostaríamos que essa frase fosse redundante, mas a autopropriedade nos é negada tanto por essas diversas formas de violência, quanto quando as religiões ou Estado se autorizam a decidir quando e sob quais condições as mulheres devem dar à luz a crianças; Quando alguns políticos conservadores querem fazer uso do Estado para priorizar os direitos do feto em detrimento dos direitos da gestante, obrigar a mulher a ter vínculos com o estuprador que causou sua gravidez e criminalizar suas decisões sobre seu próprio corpo neste (Leia aqui o projeto de Lei do Estatuto do Nascituro na íntegra!) ou em outros casos; Quando as religiões sacralizam um feto e endemonizam a gestante que escolhe, por motivos econômicos ou não, não levar a gestação adiante; Quando ambos não garantem às mulheres sequer o direito de escolha. Meu corpo deve ser meu, e deve sê-lo de uma forma revolucionária, porque [historicamente] nunca foi!
Nosso corpo nos é negado também quando
nos negam a liberdade não só de fazer sexo com quem quisermos, mas apenas
quando quisermos, sem que seja pra fins procriativos, assim como desde sempre
fazem os homens. As mulheres podem gostar de sexo, sentir prazer com sexo e
escolher então quem lhes permita senti-lo, seja com homem ou mulher, seja
consigo mesma ou seja também com ninguém, quando e se assim preferir! Nossa sexualidade
não deve ser motivo para que nos desrespeitem e não diz respeito a ninguém
além de nós mesmas!
Viemos
propor não somente uma reinterpretação do termo “vadia”, mas também uma revisão
das políticas de igualdade de direitos entre homens e mulheres, propor a
mudança na forma de entender os feminismos, para repensarmos nossas reais
condições sociais. O nosso direito ao próprio corpo também nos é negado por
todas as pessoas que rejeitam de pronto todos os feminismos ao argumentarem que
eles beneficiam apenas as mulheres. Nos é negado por todas as pessoas que justificam
agressões, mortes e estupros de mulheres e que ignoram quantas violências
sofremos pelo simples fato de sermos mulheres.
A nossa
autopropriedade também nos escapa quando precisamos cuidar de nossas
vestimentas para que outras pessoas não se apropriem violenta e forçosamente do
nosso corpo, quando consideram que qualquer forma de exposição do nosso próprio corpo põe à prova tanto nosso
autorrespeito, como nosso valor como seres humanos que somos, nosso intelecto,
nossa liberdade de ir e vir e nossa liberdade de escolha. É também nosso direito o de reivindicar nosso próprio corpo da forma que melhor expresse nossa indignação! Se isso choca, ficam ainda mais evidentes o conservadorismo e o pudor da sociedade com relação ao exercício da sexualidade das mulheres bem como de sua liberdade e igualdade diante dos homens!
A II Marcha das
Vadias de Maringá pode ser também a festa da liberdade de
gênero, ser o escândalo
de homens e mulheres quererem uma igualdade efetiva e entenderem o quanto ainda
falta para as mulheres serem entendidas e respeitadas em sua igualdade. Deve
ser uma oportunidade de reivindicarmos nossa demandas diante das mentalidades
que coisificam os corpos e que dessa forma os mantém como propriedade
patriarcal, marital, religiosa ou estatal.
Nem Estado, nem religião e nem
marido: NOSSO CORPO NOS PERTENCE!
PELA NÃO APROVAÇÃO DO ESTATUTO DO NASCITURO!
PELO FIM DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES!
QUANDO UMA MULHER AVANÇA, NENHUM HOMEM RETROCEDE!